Partidas...

São muitos os professores e funcionários que, no próximo ano letivo, deixarão de trabalhar por terem pedido a aposentação. O Broas pediu-lhes um balanço da vida profissional e as expectativas para a nova fase da vida que vão iniciar. Era impossível, devido ao elevado número de pessoas, recolher e publicar o testemunho de todos. Os que aqui ficam representam todos. Obrigada pela vida dedicada a ensinar.

Isabel Carvalho Gomes 
Professora de Português e Francês
Uma razão, uma profissão

Albert Einstein dizia que "O ensino deve ser de modo a fazer sentir aos alunos que aquilo que se lhes ensina é uma dádiva preciosa e não uma amarga obrigação." Durante 39 anos de profissão (20 deles a trabalhar nesta Escola) tentei fazer desta expressão uma máxima no meu dia a dia com os alunos. No decurso dos mesmos, através das palavras, quer em português, quer em francês, tentei assim, sensibilizá-los para a importância das línguas e, acima de tudo, para a importância da leitura.
Confesso, que é com saudade que recordo o ano de 1974 em que comecei a dar aulas. Ano em que a minha vida começou um ciclo novo quer a nível profissional, o abraçar a docência, quer enquanto cidadã de um país, também ele, a iniciar um novo ciclo da sua História. 
E, se no campo social se preconizava a partilha, para mim, enquanto docente, ela surgia como  algo intrínseco, inerente a uma vida dedicada à transmissão dos conhecimentos  e de uma constante aprendizagem quer com os meu colegas, quer, mesmo, com os alunos.
Nas diversas escolas, onde lecionei, para além da função docente, tive o privilégio de assumir outras funções acometidas à minha condição de professora, passando pela direção de estabelecimentos de ensino e até mesmo à sua criação. Há vinte anos decidi, em conjunto com a família,  mudar-me do Porto para Vila Real, lecionando, desde então, nesta Escola, onde, este ano, termino o meu mandato enquanto Presidente do Conselho Geral e concomitantemente como docente. E, se este voto de confiança por parte da Comunidade Educativa me honrou, também me fez perceber que serei uma eterna aprendiz na constante busca de atingir a quadratura do círculo. 
Os tempos mudaram, os programas mudaram, os alunos mudaram, mas para mim a essência mantém-se: a vontade de ensinar e, acima de tudo, a vontade de partilhar.
Não consigo contabilizar o número de alunos, nem tão pouco consigo contabilizar o número de alegrias e tristezas, que, enquanto professora, vivi. Tenho, no entanto, a certeza de que volvidos estes anos, ensinar é uma missão e poder realizá-la nesta Escola, tem sido um privilégio.
Aos colegas mais novos uma palavra de força e esperança, pois tal  como Erasmo de Roterdão, o maior humanista,  afirmou:
 “O amor recíproco entre quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar ao conhecimento.”
José Aníbal Félix de Carvalho - 59 anos
34 anos de serviço
Professor de Educação Física
Iniciei a atividade docente no ano letivo de 1978/79, na Escola Secundária Oliveira Martins , no Porto. No ano letivo de 1982/83, há trinta anos, comecei a dar aulas nesta Escola, depois de ter trabalhado em mais três escolas. Focar um momento que mereça especial referência entre os muitos que vivi ao longo de um percurso de tantos anos de docência pode tornar-se injusto, pelo esquecimento que o muro do tempo ergue nas nossas memórias… na eventualidade de tal acontecer, que isso não signifique, de modo algum, desconsideração por quem comigo os partilhou. Ouso, pois, correr esse risco e, assim de repente, não há um, mas vários momentos que não posso deixar de mencionar: o meu primeiro dia de trabalho como professor, quando o meu sonho e as expetativas dos que me eram mais queridos se concretizaram; a “cerimónia” de despedida de um conselho diretivo ao qual tive a imensa honra de presidir e o carinho e a solidariedade que todos os elementos da “minha” escola me dispensaram em momentos dolorosos da minha vida. Resumindo a minha vida como professor numa frase:
Navegar num oceano encapelado de ondas de AMIZADE.
Horácio Oliveira Carvalho - 58 anos
41 anos na Escola (3 como aluno e 38 como professor)
Gostei da minha vida profissional, assisti e vivi muita coisa, boa e menos boa. Aquilo de que mais gostei foi dos trabalhos em madeira que desenvolvi com os alunos dos cursos técnicos e profissionais e os intercâmbios com outras escolas. A ida a uma escola do norte da Dinamarca foi muito interessante e proveitosa. O azevinho que está na entrada da nossa Escola simboliza esse momento. Os intercâmbios desportivos com outros organismos públicos (CTT - CGD - Hospital…) eram divertidos, aproximavam as pessoas e permitiram-nos ganhar muitas taças. Uma, em madeira, foi feita por mim, é o Chefe da Secretaria, o Sr. Luís Gomes, que a tem, porque ganhou a corrida de Vila Pouca de Aguiar a Vila Real. O segundo Diretor desta Escola, o engenheiro Calejo, marcou-me muito pelo carinho e zelo que tinha pela Escola e pelos cursos profissionais. Lembro a situação caricata de a Sala dos Professores só estar acessível aos que eram licenciados e bacharéis. Havia casais em que um podia entrar e o outro não. Lembro o Padre Borges e o seu esforço para ensinar os alunos a almoçar de faca e garfo. Era difícil. Lembro que ao almoço os alunos tinham direito a um copo de vinho. Outros tempos! Uma frase para resumir tanta coisa: Aqui cresci e aprendi. Aqui vivi e ensinei. Já tenho saudades.
Maria Filomena da Costa Barros Araújo - 64 anos de idade
38 anos de serviço, 33 dos quais nesta Escola
Professora de Ciências Físico-Químicas
Ser professora de Ciências Físico-químicas foi a profissão que escolhi e da qual sempre gostei muito. Foi gratificante acompanhar e ensinar tantas gerações. Ocorreu, muitas vezes, ser professora dos pais e, mais tarde, dos filhos. Vá lá que não cheguei aos netos. Estou cansada e desgosta-me o que está a acontecer à Educação em Portugal. Estamos a regredir. Projetos para a reforma tenho muitos: dedicar-me à agricultura, viajar, conversar, observar e refletir o Mundo.
António José Cunha Miranda – 58 anos
35 anos de serviço – 30 anos nesta Escola
Professor de Matemática
Sempre, nos 35 anos de serviço, dei aulas, o trabalho de que mais gosto. Desempenhei vários cargos: estive na Direção Executiva dois anos - fiz parte do GIA (Gestão Integrada da Ação Escolar).
Nos últimos 10 anos ocorreu uma mudança na atitude dos alunos face à escola e ao estudo têm, de um modo geral, menos métodos de trabalho, menos empenho, menos disciplina. O convívio entre os professores já não é o que era. Havia muitos professores deslocados que viviam, durante a semana, em Vila Real. Organizavam-se muitos jogos e jantares. Existia uma relação mais próxima com os colegas.

Na reforma vou poder dedicar mais tempo às atividades de lazer de que muito gosto: caça - pesca - passeios de bicicleta - caminhada. A prática de todas elas permitiu-me conhecer, bem, o Nordeste transmontano. A minha quintinha, em Sabrosa, também me vai ocupar muito tempo.
Luís Manuel Rodrigues Gomes - 59 anos
40 anos de serviço - 31 anos de serviço nesta Escola
Chefe dos Serviços Administrativos há 20 anos.
Estudou nesta Escola seis anos e começou a trabalhar em 1973, era então Diretor da Escola Industrial e Comercial de Vila Real o engenheiro Pereira Pinto. Gostou sempre da profissão que exerceu, mas já são muitos anos a lidar com números. Por inerência do seu cargo fez parte do Conselho Administrativo que é constituído pelo Diretor da Escola, a subdiretora e o chefe dos Serviços Administrativos. Desde a criação do Conselho Geral que integrou este órgão, como representante dos funcionários administrativos. Para a reforma pretende dedicar-se mais à agricultura, atividade de que gosta muito.
José Maria Figueiredo Alves Meireles - 62 anos
36 anos de serviço, todos eles nesta Escola
Encarregado dos assistentes operacionais.
Na hora de fazer o balanço da vida profissional, lembra a dedicação que sempre manifestou à Escola e que se traduziu, por exemplo, em muitos serões e fins-de-semana a trabalhar. Foi sempre muito participativo, tendo exercido diversos cargos e fazendo parte de órgãos como o Conselho Geral. Orgulha-se de ter vencido sempre os atos eleitorais em que foi candidato. O que mais gostou foi do apoio informático, na Mediateca. Reflete e tenta responder à questão: Valeu a pena? A sua consciência está satisfeita, considera que cumpriu os seus deveres, mas a tensão psicológica provocada pelas mudanças e incertezas na função pública fazem-no, por vezes, duvidar.
Para a reforma não tem projetos concretos, viver um dia de cada vez é, por si só, um grande projeto e uma atitude sensata de quem já recebeu dissabores e contrariedades da vida. 
 José Carlos Rodrigues - 57 anos
37 anos de serviço - 30 anos de serviço nesta Escola.
Começou a trabalhar aos 14 anos. Nesta Escola começou em 1983 era, então, Presidente do Conselho Diretivo a Dra Adelaide Costa. Trabalhou alguns anos à noite, no tempo em que a Escola tinha ensino noturno. Trabalhou muito tempo no jardim e gostava muito, mas as operações à mão direita e a uma hérnia discal obrigaram-no a deixar esse trabalho. Gostou da profissão que exerceu. A reforma vai vivê-la em  Cerva.


1 Response to "Partidas..."

  1. Anónimo says:

    Parabéns ao "Broas", por se lembrar de homenagear quem parte...

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