A Crise e As Crises...

Crises em Portugal, no pós-25 de Abril de 1974, com intervenção do FMI (Fundo Monetário Internacional) são já três. A primeira ocorreu em 1977/78, durante o II Governo Constitucional (coligação entre o PS e o CDS), sendo primeiro-ministro Mário Soares e ministro das Finanças, Victor Constâncio. Foi-nos concedido um empréstimo de 111 milhões de euros.
A segunda intervenção concretizou-se em 1983, durante o IX Governo Constitucional (coligação entre o PS e o PSD - Bloco Central), sendo primeiro-ministro Mário Soares e ministro das Finanças, Ernâni Lopes. Foi-nos concedido um empréstimo de 555 milhões de euros. O Broas procurou professores e funcionários com lembranças e vivências desses momentos críticos da nossa História. O critério escolhido foi o da idade. Entrevistámos os que mais viveram, os mais sábios, neste caso sábias, duas mulheres.
   Maria da Conceição Ferreira de Almeida
64 anos - natural de Vila Real
Estudou nesta Escola (Escola S/3 S. Pedro - Vila Real) e é funcionária da secretaria há 4 anos
Trabalhou, mais de 20 anos, em residências de estudantes em várias localidades (Chaves - Alijó - Odemira - Vila Real)

Lembra-se das duas primeiras intervenções do FMI em Portugal?
Lembro-me bem, nesses tempos ainda não estava empregada, vivia com os meus pais. Nos meios de comunicação falava-se nos problemas, mas menos que hoje.

Comparando essas duas crises com a atual, qual é a sua opinião?
Tenho a certeza que esta é muito pior. Nas outras também houve cortes, mas as medidas atuais são mais duras. Há uma tensão psicológica muito grande, estão sempre a dizer/ameaçar que vão despedir funcionários públicos, o que traz grande incerteza e angústia.
A idade que já tenho também não ajuda a encarar as coisas com mais ânimo. Vivemos tempos de medo e de insegurança. Não podemos olhar para o futuro com otimismo.

Quais as formas de poupar que as pessoas tinham?
Os rendimentos eram muito baixos, era difícil poupar dinheiro. Em minha casa, nunca faltou comida, o meu pai era da polícia e nós íamos à cantina da PSP buscar alimentação. Havia pessoas que passavam muito mal. Na minha rua, muitos homens trabalhavam na construção civil. No inverno, o trabalho escasseava e as famílias tinham dificuldades.
O nível de vida “impunha” a poupança. Os eletrodomésticos eram poucos e só acessíveis a alguns. Muitas casas, mesmo na minha rua, nem sequer tinham eletricidade. Os telemóveis não existiam. Eram tempos difíceis. As pessoas tinham pouca roupa, pouco de tudo.

Tem o hábito de poupar?
Sim, não sou desgovernada. Não faço compras sem precisar e levo uma vida muito caseira. Como a minha irmã está viúva e vive na casa ao lado da minha, fazemos as refeições juntas, o que permite poupar muito na alimentação, água, gás, eletricidade.
Só vou dormir a minha casa.

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