Refletir a crise...

 Maria Filomena Costa Barros e Araújo
62 anos - natural de Vila Chã do Marão - Amarante
Estudou em Marco de Canavezes - Amarante - Porto
Professora há mais de 37 anos, a maioria dos quais a lecionar nesta Escola.

Lembra-se das duas primeiras intervenções do FMI em Portugal?
Lembro-me muito bem. Em 1978 tinha 30 anos e em 1983 tinha 35 anos, tenho obrigação de me lembrar, como é óbvio.

Comparando essas duas crises com a atual, qual é a sua opinião?
Esta é, de longe, a mais grave. As outras doeram, também houve aumento dos impostos, redução ou congelamento dos salários, despedimentos, mas foram de menor dimensão. Não houve corte dos subsídios de Natal e de Férias, mas o subsídio de Natal foi pago em certificados de Aforro que só podiam ser resgatados ao fim de dois anos. Outra imposição prevista, mas não concretizada, para poupar gasolina era: os carros com número de matrícula par só podiam circular determinados dias da semana e, nos outros dias, circulavam os automóveis com matrícula ímpar.

Quais as formas de poupar que as pessoas tinham?
  Antes da Revolução do 25 de Abril as pessoas poupavam. Por exemplo, para fazer render o azeite, as pessoas com menos posses colocavam as batatas cozidas num prato grande e todos comiam dele. Depois do 25 de Abril,  todos deixaram de poupar. Há gerações que não sabem o valor do dinheiro, devido à facilidade de recorrer ao crédito. Considero um absurdo tremendo pedir um empréstimo para ir fazer férias.
  Impressiona-me o esbanjamento, sobretudo de comida. Há pessoas, na minha aldeia, que criam animais e deitam pão fora. É lamentável. Não se manda reparar nada, não funciona, deita-se fora e compra-se novo.
  Noto, no entanto, que nos últimos tempos, as pessoas estão mais comedidas nos gastos e no desperdício. Muitos dos campos abandonados voltaram a ser cultivados. É o regresso à terra, às origens.

Tem o hábito de poupar?
  Sou poupada, mas não exagero. Gosto de viajar. É um prazer do qual não prescindo. Há, convém esclarecer, alguns mitos sobre poupança. Por exemplo, as luzes fluorescentes poupam mais se ficarem ligadas durante o intervalo das aulas. É no arranque que é consumida mais energia. Tenho dito!

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