Camonianos e Pessoanos...
sábado, 31 de maio de 2014
11:01
Etiquetas: As pessoas contam , Crítica não Literária , Olhares e pareceres , Polémica , Saborear a leitura
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Há uma grande e polémica divisão no mundo literário português. Quem foi maior poeta: Luiz Vaz de Camões ou Fernando António Nogueira Pessoa?
Ouvimos os alunos do 12.º ano que estudam ambos.
É difícil escolher entre estes dois grandes poetas, mas sendo necessário, teria de escolher Pessoa. Este poeta possui um charme que mais nenhum poeta português possui, não sei se pelos seus variados heterónimos ou se pela atualidade dos seus poemas. Ambos possuem uma grande capacidade de escrita e de incentivar o leitor a refletir, não deixando dúvidas de que eram grandes escritores. Camões proporciona-nos uma aventura pelos tempos dos Descobrimentos enquanto Pessoa, através da sua obra Mensagem, nos propõe uma interpretação de mitos e símbolos.
Fernando Pessoa - O supra–Camões
Rita Lopes | 12.º C
Camões e Fernando Pessoa são considerados os maiores vultos da poesia portuguesa. Apesar de estarem separados por quase 400 anos e por correntes literárias diferentes, há a problemática: qual deles é o melhor?
Dou preferência a Camões por duas razões:
- porque foi e é uma referência e inspiração para os poetas portugueses, inclusive para Pessoa, na obra épico-lírica Mensagem;
- porque Camões viveu no tempo em que Portugal estava no apogeu, em que havia a sensação de esperança e que tudo se poderia tornar melhor, o que se nota na sua obra grandiosa Os Lusíadas.
Aliás, Camões pede ao rei D. Sebastião que continue o exemplo dos antepassados para que possa “cantar” novas glórias. Ironicamente, os feitos pedidos por Camões a este rei não foram concretizados e a decadência em que o país mergulhou foi a temática mais presente em Mensagem. Nela, o país está estagnado, o que origina o mito do sebastianismo. É a imagem de um país mais triste, mais decadente, que se opõe ao Portugal camoniano. Por isto, prefiro Camões.
Aluno do 12.º ano
Na minha opinião, o melhor poeta Português é, sem dúvida, Camões, tanto pelas temáticas abordadas nos seus poemas: os feitos portugueses e a mitificação do herói em Os Lusíadas, mas também pelo seu estilo inconfundível, que demonstra um total domínio da Língua Portuguesa e uma genialidade patente nas suas obras. Não querendo afastar a capacidade poética de Pessoa, apenas acho que a subtileza e imaginação com que Camões fez as suas obras fazem com que ele seja, para mim, o melhor Poeta Português.
António Pinto Sousa | 12.º C
Camões ou Fernando Pessoa, qual o melhor poeta? Quando me perguntam isto é difícil responder, porque ambos são grandes génios da literatura. Neste ano letivo, tive a oportunidade de os estudar e fiquei fascinada. Os Lusíadas, de Camões, e Mensagem, de Fernando Pessoa, foram as obras que mais me marcaram, porque foi através delas que estes dois grandes autores cantaram os feitos heróicos da nossa História, bem como as figuras míticas que os protagonizaram. Têm uma alma patriota incrível e incentivam-nos a não desistirmos do nosso país, por muito decadente que ele esteja, o que se adequa à situação atual. Pessoa e Camões servem-me de inspiração e fazem-me sentir ainda mais orgulho de ser portuguesa.
Ana Rita Martins | 12.º C
Concluindo, considero Fernando Pessoa o melhor poeta português devido à atualidade dos seus poemas e, principalmente, ao poema Tabacaria, do seu heterónimo Álvaro de Campos, que considero ser um dos melhores textos que alguma vez li.
João Mourão Cabo | 12.º C
Fernando Pessoa - O supra–Camões
O que torna difícil escolher entre Fernando Pessoa e Camões é o facto de ambos terem criado uma obra completa e valiosa, tendo, cada um, a seu modo, enriquecido sobremaneira a literatura portuguesa.
Porquê então colocar Pessoa num patamar superior a Camões?
Em Os Lusíadas, Camões construiu uma obra épica muito bem desenvolvida e estruturada. Nela, o Povo Português é enaltecido, colocado ao nível dos deuses, sendo descritos os seus feitos heróicos durante a viagem para a Índia. Apesar disso, a personagem, o Povo Português, não é muito desenvolvida, é caracterizada de forma geral para abarcar um povo inteiro, o que dificulta ao leitor a identificação com este herói, tão pouca é a informação dada sobre as características específicas. São os pequenos pormenores da personalidade de alguém que nos capta a atenção e, em Os Lusíadas, tudo é genérico. É claro que os temas são atuais e fáceis de encontrar na nossa sociedade, mostrando assim a sua intemporalidade e atualidade.
Sobressai então Pessoa, porque consegue dar uma dimensão mais profunda às personagens, por exemplo, em Mensagem descreve vários heróis da História de Portugal, que têm como base uma pessoa “de carne e osso”, depois mitificada, permanecendo, no entanto, a sua essência, os ímpetos que a motivam, a ela e a nós.
Para mim, Mensagem é superior a Os Lusíadas pois exige do leitor uma atitude mais ativa, até porque o que Pessoa pretende é despertar o Povo Português, levando-o a agir: “É a hora!”. Além disso, a presença tão rica de simbologia e conotações faz com que a obra seja uma espécie de enigma que devemos decifrar, apresentando argumentos que defendem a possibilidade de atingirmos a grandeza, afinal, o desfile de heróis em “Brasão” prova isso mesmo.
Enquanto a lírica de Camões representa uma realidade demasiado polida e embelezada para corresponder ao que é verdadeiramente real, Pessoa admite o fingimento, não como forma de enganar o leitor, mas sim para moldar algo que era real, intelectualizando-o: “Tudo o que sonho ou passo,/(...)É como que um terraço /Sobre outra coisa ainda./ Essa coisa é que é linda!”. Também talvez como consequência da sua própria fragmentação, Pessoa parece conhecer muito melhor a natureza humana do que Camões, prova disso são os seus diversos heterónimos, cada um com uma identidade diferente, mas todos inteiramente genuínos.
Por tudo isto, mesmo sendo Camões um excelente poeta para a sua época, e tendo a sua obra muito valor para a nossa literatura, Pessoa supera-o, sendo, de facto, o “supra Camões”, inovando e explorando mais, oferecendo-nos uma obra construída de forma tão sublime que nos motiva, mesmo no contexto do “nevoeiro” atual.
Ana Olival | 12.º C
Camões e Pessoa deixaram um grandioso legado a nós, Portugueses, e à nossa língua. Sendo assim, como iria eu escolher um deles para melhor poeta português?
Decidi contrapô-los: um, conhecido como “o Zarolho” no seio estudantil, é autor do seu póstumo sucesso Os Lusíadas. Falo, é claro, de Luís de Camões que, em 10 cantos, 1102 estrofes e 8816 versos, reúne os heróicos feitos portugueses que pertencem à grande Época dos Descobrimentos. O outro, carinhosamente tratado por “Nando” ou até “o Bêbado” pelos mais jovens é (apesar da sua aparente “loucura”) um verdadeiro génio. Pessoa, os seus inseparáveis companheiros de vida - Caeiro, Reis, Campos e tantos outros –, é o criador de uma vasta obra complexa e plurifacetada, da qual eu destaco Mensagem.
O que mais me agrada em Os Lusíadas é o tom com o qual o poeta canta o “peito ilustre Lusitano”. Quando leio esta epopeia, parece que estou dentro de um mundo maravilhoso, onde deuses e mortais se encontram no mesmo pé de igualdade no que toca às leis do Destino e os heróis mitificados obtêm a fama e a glória eternas.
Em Mensagem, aprecio o lado mais subjetivo e esotérico que este texto épico-lírico apresenta. Este conjunto de 44 poemas está carregado de significados ocultos e simbologias messiânicas, que me levam a refletir sobre a necessidade da existência de um herói que seja capaz de nos libertar de um passado longínquo e esbatido e de um presente decadente que, tal como uma corrente, nos prende. Pessoa tem a capacidade de me desafiar de forma constante e inexorável, fazendo-me acreditar que nós, Portugueses, fomos incumbidos de uma missão: realizar o sonho do Quinto Império.
Esta disputa pelo título do melhor poeta português resulta num empate técnico entre Camões e Pessoa. Cada um deles é sublime à sua maneira, mas ambos conseguem despertar o lado patriota/nacionalista que há em mim. Invocam também no meu ser um sentimento de orgulho neste povo cuja missão é unir o Ocidente ao Oriente e dar “mundos novos ao mundo”.
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