Redes Sociais - Combate à Discriminação...



Deputados, professores e repórteres de Vila Real (mais o Senhor Guarda) na hora da despedida

Dois dias intensos, na Assembleia da República, começaram com uma viagem algo atribulada por causa do nó de Soutulho. Se não sabe onde é, não se preocupe, nós também não sabíamos e penámos para o saber. Afinal, tem que se sair do IP3, em Vila Chã de Sá, para o encontrar. Fica o aviso. A chuva, em alguns momentos, torrencial, acompanhou a nossa viagem rumo a Lisboa.
Esquecido o percalço, chegámos à AR e, após a creditação, os deputados de Vila Real foram inseridos na 3.ª comissão que integrava deputados de 7 círculos eleitorais e foi presidida por Miguel Tiago, deputado do PCP, ajudado por Pedro Alves, deputado do PS e assessorado por Margarida Rodrigues.
Começaram os trabalhos: cada distrito apresentou o seu projeto de recomendação, seguindo-se o debate. Ouviram-se ideias e argumentos interessantes. Houve algumas intervenções mais incisivas e surpreendentes como a do deputado de Braga que, agastado com as críticas sobre os encargos financeiros de uma das suas medidas, redarguiu assim: Disseram-me para apresentar medidas, não para calcular custos. Um deputado de Setúbal não concordando com a intervenção de um deputado de Castelo Branco que afirmou que pouco se sabia sobre o que era a discriminação, contrariou-o com estas palavras: Se o seu Círculo não sabe o que é a discriminação, penso que não deveria estar aqui. Ainda o mesmo deputado, mais à frente, dirigiu-se à Mesa afirmando: Quando o deputado de Castelo Branco estava a intervir o tempo não foi contabilizado. É discriminação!
Os projetos eram muito idênticos estando uns mais explícitos, mais claros e outros mais difíceis de entender. Após muitas palavras ditas, muitos pedidos de esclarecimento, procedeu-se à votação do projeto final. Todos os deputados tinham que votar pelo menos num projeto, sendo o projeto de recomendação de Setúbal o grande vencedor. 
Enquanto decorriam os trabalhos das comissões ocorreu uma visita guiada aos principais espaços da AR para os professores e outra para os jornalistas. Aprendi a história do edifício designado por Palácio de S. Bento, desde  as suas origens como mosteiro até à atualidade. Reparei que há muitas figuras femininas, mas não representam nenhuma mulher em concreto, representam ideias, conceitos: república; justiça; lei; eloquência… já os homens representados são pessoas concretas: políticos; grandes oradores; reis; legisladores… Na Sala dos Passos Perdidos foi-nos explicado o porquê desta designação: durante o Estado Novo era muito difícil conseguir falar com os deputados. Por vezes, as pessoas passavam horas naquela sala, à espera, andando de um lado para o outro (passos perdidos) e acabavam por ir embora sem terem falado com quem pretendiam. Eram passos e tempo perdidos!

Na figura que representa o Padre António Vieira, o Imperador da Língua Portuguesa, segundo Fernando Pessoa, há um pormenor interessante: um pé não foi pintado. A explicação está no facto do pintor, Columbano Bordalo Pinheiro, ter acordado determinadas condições de trabalho e remuneração que não foram cumpridas. Para se vingar e lembrar a todos a injustiça não pintou o pé, mas em contrapartida, desenhou o seu fantasma num outro fresco, na mesma sala. Nas fotografias que tirei estive atento a tudo, mas em particular aos pequenos pormenores, como os jogos geométricos do soalho, a madeira esculpida das portas, armários, cadeiras… os desenhos dos candeeiros, as flores dos canteiros do claustro, o ninho de um passarinho num arbusto do mesmo claustro… tanta coisa bonita para ver.
O lanche, devido à chuva, teve que ser no interior o que não impediu que fosse muito agradável. O programa cultural foi assegurado pela atuação do Grupo Coral Kyrios constituído por jovens de diferentes faixas etárias. Cantaram lindas canções, a que mais agradou e todos pediram bis foi Allelujah de Leonard Cohen. É magnífica e foi muito bem interpretada.
O jantar, como a chuva deu tréguas, já decorreu no claustro. Foi animado e a comida era excelente e abundante. As sobremesas eram divinas. Os autocarros levaram-nos para o Inatel de Oeiras, mesmo à beira-mar, onde pernoitámos e descansámos de um dia cansativo e repleto de emoções e coisas novas.

Na manhã de terça-feira, decorreu o Plenário, na Sala do Senado. O discurso inaugural, por impedimento da Senhora Presidente da AR, esteve a cargo do vice-presidente, Dr. Guilherme Silva. Seguiu-se a sessão de perguntas e respostas aos deputados de todos os partidos com assento na AR. Houve perguntas e respostas muito interessantes, como esta: Como se separa os interesses dos partidos dos interesses do país? Resposta: O partidarismo é, na realidade, um dos grandes males da democracia, mas há outros interesses, menos evidentes, mas mais nefastos, os da banca, da Troika… afirmou o deputado Miguel Tiago do PCP que acrescentou, mais à frente: A Democracia aqui dentro sem a Democracia lá fora não tem eficácia. A Mesa presidida por Guilherme Vilhais exerceu muito bem as suas funções. O Projeto de recomendação final ficou com nove medidas. Os trabalhos foram encerrados com o discurso do Presidente da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, Dr. Ribeiro e Castro.


Na Conferência de Imprensa a cargo do Dr. Ribeiro e Castro, foram muitos os jornalistas e as perguntas. Aproveitámos um bocadinho de tempo livre para entrevistar a Dra. Julieta Sampaio, criadora deste projeto. Perguntei-lhe: como surgiu a ideia de criar o Parlamento dos Jovens e qual o balanço que faz deste projeto.
Eis as respostas: a ideia surgiu da necessidade que senti, enquanto professora de Matemática, de contribuir para a formação cívica dos alunos, a par da formação curricular. O projeto nasceu em 1995 e chamava-se Escola e Assembleia. Mais tarde, em 2005, fundiu-se com o projeto Hemiciclo do IPJ. O balanço não poderia ser mais positivo. Já encontrei alunos que participaram no projeto a exercerem cargos políticos em juntas de freguesia e câmaras municipais. É muito gratificante.
A Dra. Julieta Sampaio e eu

As nossas deputadas, Erica Amaral e Inês Monteiro, resumiram esta experiência extraordinária afirmando: foram dias muito intensos e agradáveis. É bom conhecer outras pessoas e outras perspetivas do mesmo tema. O mais interessante é a sessão de perguntas aos deputados. Pensamos que já sabemos alguma coisa sobre o funcionamento da nossa democracia.
Segundo a Professora que nos acompanhou, veterana com quatro presenças na Sessão Nacional: para que tudo fosse perfeito, apesar do nó de Soutulho e da chuva, faltou estarem em flor os milhares de jacarandás de Lisboa. Parece que ela gosta muito de árvores. Eu que balanço faço destes dias memoráveis? Adorei, para o ano quero participar como deputado!

                                                                                                           João Caramelo Soares - 7.º A

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