Carta a Um Fumador...



Vila Real, 12 de novembro de 2012
Querida Madrinha,

Apesar da longa distância que nos separa, soube da triste notícia de que voltaste a fumar. Nesse dia, a minha alma entristeceu, o sol, que irradiava, ficou obscurecido de fumo, o mundo ficou mais cinzento e o dia ficou noite. Vi-te no meio da escuridão que te acompanhava como uma sombra envolta em neblina fumarenta.
Fizeste-me lembrar uma professora que tive há uns anos atrás. Ela vestia de escuro, cor que disfarça, mas o seu hálito era desagradável e indesmentível. Cheirava a fumo, tal como um vulcão a enxofre. Os seus dentes estavam escurecidos e amarelos. Tinha olheiras profundas e a sua pele era velha, pálida e enrugada. O seu cabelo era negro tal como o é a chaminé de uma fábrica poluente. Quando entrava na sala, os alunos olhavam uns para os outros com uns olhares comprometidos, suspendendo a respiração. Aquele cheiro era insuportável. O rosto estava desesperado, com olhos raiados de fumo.
Tinha uma tosse seca, irritante, e trazia sempre uma garrafa de água na sua carteira para as emergências que acompanhava com mais de um maço de tabaco e isqueiro. Todos os intervalos, fizesse chuva, fizesse sol, lá estava ela no exterior da escola, com mais uns quantos dominados pelo mesmo vício. Tu também frequentavas o mesmo lugar, nesse canto semeado de beatas, onde entre poucas conversas salteadas, o teu ser era dominado pelo vício que por ti se alimentava do ar poluído da combustão do cigarro.
Inesperadamente, acordei com um trovão e um vento que, sem saber que o Outono já chegara, levara para junto da minha janela um ramo que se queria despedir. Já sentada na cama, sem saber o que verdadeiramente me acontecera, logo me veio à memória o que acabara de sonhar. Liguei a luz e decidi que te devia pedir para te libertares desse vício. Mais confiante e tranquilizada, de novo embalada pelos ventos, caí de novo num outro sonho, sem lembrança, que me transportou até de manhã. Era hora, mandada pelo despertador, para eu ir para a Escola.
Sentada na sala, entre amigos e conversas sempre inacabadas, eis que a porta se abre e a professora entra, sorridente e de ar jovem, com pele lisa e rosada, num traje completo e belo, a largar sorrisos e um aroma perfumado, voltei-me a lembrar de novo de ti. Peguei na minha caneta e numa folha arrancada do meu caderno preferido e escrevi-te estas palavras, que são um pedido enternecido, para ti:
Madrinha! Não quero que fumes, para que não te degrades e não adoeças. Eu gosto muito de ti e quero ver-te por cá, por muitos e longos anos. Quero crescer ao teu lado e ver-te a sorrir como a minha professora.
Um grande beijinho da tua afilhada,
Rita Salgado
Esta Carta a um Fumador ganhou o concurso promovido pelo PPES na campanha contra o consumo de tabaco.

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