A Metamorfose - Franz Kafka
segunda-feira, 20 de junho de 2016
23:56
Etiquetas: Leitura e Escrita , Olhares e pareceres , Saborear a leitura
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A Metamorfose é a maior obra de Kafka, nascido a 3 de julho de 1883, em Praga, atual República Checa, e que morreu a 3 de junho de 1924, em Viena, aos 40 anos.
A história retrata a súbita metamorfose de um jovem rapaz chamado Gregor Samsa num inseto monstruoso. Até então, o protagonista era um rapaz trabalhador que sustentava a família, exercendo uma profissão aborrecida, que não lhe fornecia realização profissional ou pessoal. A família tratava-o com afeto, todavia, com o passar do tempo, os pais passaram a acreditar que era obrigação dele sustentá-los.
Quando transformado em inseto, Gregor Samsa continua a preocupar-se com os outros, nunca consigo mesmo; como já não produz, é rejeitado cruelmente pela família, que representa a sociedade. Percebemos que esta metamorfose é uma metáfora da inadaptação das pessoas à sociedade e uma crítica profunda à mesma.
O drama da personagem principal assemelha-se ao de um trabalhador comum, que exerce um emprego do qual não gosta. No entanto, quando se dá a transfiguração, são revelados os interesses mesquinhos e a falsidade do afeto dos que o rodeiam. A transformação pode também ser interpretada como uma forma de cada um de nós deixar de estar camuflado numa personagem aceite e idealizada pela sociedade, revelando-nos tal e qual como somos. A utilização das personagens da família não é inocente, pois a vida de Kafka foi marcada pela relação difícil com o pai e por complicados relacionamentos afetivos.
A ação desenvolve-se num mundo de pesadelo, em que predomina a solidão do indivíduo, indefeso diante do poder, como observamos ao longo da história quando o protagonista é feito prisioneiro no seu próprio quarto, sem qualquer interação com o exterior. A sua maior preocupação é a subsistência da família. Apesar de ir ficando cada vez mais debilitado, nunca deixa de ter em conta os sentimentos dos outros, enquanto estes, se afastam e o veem como uma aberração, um fardo que é preciso esconder e, de preferência, eliminar. O monstro não perde a humanidade, mas os humanos sim. As cenas que são descritas pelo autor, apesar de absurdas, representam o modo como a sociedade vê e trata os que mais "incomodam”.
O clima de agonia e pessimismo mantido por Kafka é um espelho do cenário mundial da época em que a obra foi escrita. É uma obra inteligente e cruel, redigida em 1912, que permanece atual porque explora temas da sociedade contemporânea: a desesperança do ser; a solidão; a excessiva importância das aparências; a impotência da minoria perante a sociedade; a ausência de coragem de cada um para se revelar ele mesmo; a frieza e a falta de escrúpulos perante a fragilidade dos outros.
Precisamos de livros que nos afetem como um desastre, que nos angustiem profundamente, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para florestas distantes de todos, como um suicídio. Um livro tem de ser o machado para o mar congelado dentro de nós. - Franz Kafka
Joana Fraga | 10.º A
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