Herberto Helder


Conheci-te numa aula de História, de terça-feira, quando a Professora trouxe o jornal Expresso e tu estavas na capa da revista E. Talvez por causa desse conhecimento, reparei na notícia da tua morte, poucos dias depois. A curiosidade despertou-me a vontade de pesquisar a tua obra e a tua vida.
Descobri que o teu nome completo é Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira e que nasceste a 23 de novembro, de 1930, na cidade do Funchal, na ilha da Madeira. Sei, que apenas com dezasseis anos, vieste para Lisboa fazer os 6.º e 7.º anos [atuais 10.º e 11.º anos], frequentaste o curso de Direito, em Coimbra e, mais tarde, o curso de Filologia Românica.
Parece-me que passaste grande parte da tua vida à procura de não sei bem o quê. Procuraste a mudança nos estudos, na profissão, contabilizei cerca de vinte profissões que exerceste, numas foste mão de obra barata, noutras intelectual reconhecido. Os lugares diferentes foram, também, uma das tuas buscas, viveste, para além de Portugal, em França, Holanda, Bélgica, Espanha, Dinamarca, Angola, EUA...são muitos lugares e três continentes.
Vejo escrito que és considerado, pelos entendidos, o maior poeta da Língua Portuguesa depois de Fernando Pessoa. Recusaste prémios e homenagens, viveste isolado do mundo. Procurei a tua obra e encontrei títulos estranhos: Electronicolírica; inesperados: Apresentação do Rosto - Photomaton e Vox - A Máquina de Emaranhar Paisagens; acessíveis e poéticos: Os Passos em Volta - Retrato em Movimento - Ofício Cantante. Li alguns dos teus poemas. Alguns são complicados e tive dificuldade em entendê-los, mas de outros gostei muito. Partilho aqui um dos poemas de que mais gostei.


Se houvesse Degraus na Terra

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
E metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.
Alice Martins | 10.º H

 
                                     


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